quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Apátrida

Eu gostaria de escrever sobre a sensação de não pertencer, mas escrevo e apago as palavras como se não pertencer fosse muito difícil de admitir.

Os parágrafos surgem, mas logo se vão. Eles não pertencem. 
Os pensamentos nascem, mas logo morrem. Eles não pertencem.
As palavras são escritas, mas logo se apagam. Elas não pertencem.


Eu existo, mas logo me calo. Eu também não pertenço.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sobre crianças.

        Ontem, uma menina me falou "escreve você!". Perguntei o porquê, e me disse que a minha letra era mais bonita.
        Me impressionei - mais bonita? Minha letra de moça mais velha, moça agitada, letra fina, corrida, sem muitos desenhos. Uma Letra sem planejamento, letra stressada, letrada grande e fina.
        Pensei "Como pode?". Eu gostava mesmo da letra dela. Inocente, redonda, cheia de  desenhos, feita devagar, com esmero. Letra de crianças sem preocupação, que não sabe muito bem como faz - mas faz - do jeito que pode. Com coragem, sem medo de errar.
        - A sua que é bonita, faz do seu jeito.
        Inspirada, fez. Começou imitando o meu jeito, mas logo o "o" que parece um "a" se transformou numa bola inocente, com voltinhas infantis.
        Que vontade de dizer para ela admirar o que ela faz, admirar o jeito que faz, se aceitar do jeito que é. Não se apressar e aproveitar o tempo que vive, o tempo que tem para desenhar letrinhas e que em breve vai passar. E continuar sendo assim, criança.